A contagem decrescente já começou: os termómetros não param de aumentar, a chuva teima em cair cada vez menos e os fenómenos meteorológicos extremos são mais e mais frequentes. É preciso acelerar o ritmo da neutralidade carbónica até 2050 na União Europeia, uma meta que Portugal antecipou para 2045 e que exige esforço conjunto para que seja alcançável. O caminho é desafiante, mas repleto de oportunidades para a sociedade – a economia nacional poderá ser mais sustentável, surgirão novas oportunidades de emprego e qualificação profissional, e os países europeus poderão alcançar maior independência energética e menor dependência de matérias-primas de outros países ou regiões.
Mas o que é necessário para concretizar uma transição bem-sucedida que beneficie as famílias e empresas? São necessárias políticas governamentais adequadas, investimento do sector privado e envolvimento da sociedade. São necessários avanços tecnológicos e soluções que não deixem ninguém para trás nesta transição. E à medida que nos afastamos da trajetória de limitar a subida da temperatura a 1,5 graus, é necessária uma execução mais rápida desta transição. Este será o tema central da terceira edição do evento internacional EDP Business Summit, feito para empresários e gestores de empresas que se preocupem com a sustentabilidade e a transição energética. O evento regressa a Lisboa no dia 7 de março com oradores nacionais e internacionais que vão debater formas de acelerar a transição energética, tanto nas utilities como nas empresas.
A transição energética só será possível se todos – consumidores, empresas e Estados – contribuírem para a construção de um futuro melhor e mais sustentável. Se nada fizermos, Portugal pode, por exemplo, perder até ao final deste século 30% a 40% de chuva, segundo o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês) uma realidade que terá impactos negativos ainda maiores do que os já visíveis com o estado de seca atual, ao nível da quantidade de água potável disponível para consumo e para a agricultura.
Quais as metas europeias a cumprir? E qual o compromisso de Portugal?
É preciso regressar a 2015, quando foi celebrado o Acordo de Paris. O compromisso foi considerado histórico, bem como as consequências que daí resultaram: os Estados-membros da União Europeia (UE) definiram 2050 como prazo máximo para que o espaço comunitário atinja a neutralidade carbónica. Antes ainda, os países terão de atingir uma redução de 55% nas emissões de gases com efeito de estufa até ao final desta década. Portugal foi o primeiro país do mundo a prometer fazer o caminho da descarbonização até 2050 e decidiu, no final de 2022, antecipar a meta para 2045.
Qual o papel do setor energético neste caminho de neutralidade carbónica?
A energia desempenha um papel fundamental na luta contra as alterações climáticas, uma vez que é uma das principais fontes de emissão de dióxido de carbono para a atmosfera. Precisamos de aumentar a penetração das energias renováveis no sistema elétrico, substituindo os combustíveis fósseis por fontes de energia renováveis e limpas como a eólica, a solar e a hídrica, e, ao mesmo tempo, acelerar a eletrificação da economia.
O que é preciso fazer no setor energético?
O Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030) definido pelo Governo estabelece objetivos concretos para atingir nos próximos anos: em 2026, Portugal deve garantir que pelo menos 80% de toda a energia será produzida a partir de fontes renováveis. A par deste aumento, a capacidade de produção elétrica em território nacional deve duplicar dos atuais 23 GW de potência para 47 GW até ao final desta década. Para este crescimento exponencial, o Governo prevê um aumento significativo da produção eólica (em terra e no mar) e solar fotovoltaica.
Portugal está na linha da frente das renováveis? Portugal foi, em 2022, o sexto país da União Europeia com maior consumo energético com origem renovável, logo atrás de países como Finlândia, Letónia, Dinamarca e Estónia. Os dados do Eurostat são confirmados pelos números da REN, que assegura que, em 2023, as renováveis abasteceram 61% do consumo total de energia no país. Este é o valor mais elevado de sempre. E é possível continuarmos a aumentar a penetração de renováveis no sistema elétrico e utilizá-la para cobrir o total consumo elétrico dos portugueses. Em janeiro, de acordo com dados da REN, as energias renováveis abasteceram 81% do consumo total no território. A maior fatia foi garantida pela produção hídrica (47%), seguida da eólica (25%), da biomassa (5%) e da energia solar (4%). Dois meses antes, Portugal dependeu apenas de fontes de energia limpas para a eletricidade que todo o país necessitou durante seis dias.
Quanto é preciso investir?
Segundo o ainda ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, o país deverá ser capaz de captar mais de 60 mil milhões de euros para a transição energética até ao final desta década. A par deste valor, Portugal tem ainda ao dispor 22 220 milhões de euros para executar no âmbito da reprogramação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que prevê investimentos estratégicos na área das indústrias verdes e energias renováveis. Só para a descarbonização da indústria, o PRR prevê mais de 700 milhões de euros, a que se juntam mais 385 milhões para o hidrogénio e as energias renováveis, assim como 846 milhões para garantir a independência energética do país. No total, são mais de 4.000 milhões de euros destinados à dimensão do clima no PRR.
Setor continua aposta forte em energia verde
As empresas como a EDP têm um papel muito relevante neste caminho de descarbonização. Há mais de duas décadas que a EDP aposta no aumento da produção de energias renováveis, comprometendo-se a investir em Portugal mais de 3 mil milhões de euros na transição energética até 2026. Destes, cerca de 850 milhões são destinados a aumentar a capacidade renovável do país ao adicionar projetos solares a parques eólicos já em operação, criando polos híbridos de energia renovável, que a empresa quer entregar ao país com mais 1,8 GW de potência instalada. O investimento da multinacional atingiu, nos últimos 20 anos, mais de 15 mil milhões de euros que permitiram alcançar 6 GW de capacidade renovável instalada e abastecer mais de 7 milhões de clientes em território nacional. Neste período, a EDP passou de 20% de produção de energias renováveis para mais de 85%, mas a ambição é ultrapassar a barreira dos 90% até ao final do próximo ano na soma de todos os países em que está presente.
Quais os principais entraves para o aumento da penetração de renováveis no sistema elétrico?
A demora e a burocracia nos processos de licenciamento são os principais entraves apontados, a que se junta uma regulamentação ainda pesada e pouco ágil. Apesar de ter sido pioneiro no desenvolvimento de projetos eólicos há mais de duas décadas e de avanços importantes na legislação, Portugal precisa acelerar os processos de transição energética. Novos projetos de larga escala aguardam muitas vezes cinco ou mais anos por autorizações e licenças, o que pode vir a pôr em causa as ambições energéticas e climáticas.
Como ultrapassar os desafios?
Para atrair mais investimento para a área das energias verdes, é preciso reduzir os procedimentos administrativos e acelerar o licenciamento para a implementação de novas tecnologias. Em particular no campo da inovação, a velocidade da decisão sobre projetos-piloto é frequentemente crucial para determinar o grau de competitividade de determinada empresa, sector ou país. A simplificação administrativa é, por isso, uma das respostas aos desafios.
Mas também há oportunidades
O presente e o futuro são igualmente marcados por oportunidades com grande impacto na transição energética. A hibridização é disso exemplo: trata-se de combinar diferentes tecnologias renováveis, como o sol e o vento, no mesmo local. A EDP Renováveis foi pioneira na Península Ibérica e a primeira a colocar em operação um parque que combina produção de energia eólica e solar em Portugal, na Polónia e em Espanha. Aliás, esta semana a empresa inaugurou a sua segunda instalação híbrida em território nacional, nos concelhos de Penela e Ansião. Ao adicionar mais de 36 mil painéis solares aos terrenos onde a EDP já tinha 13 turbinas eólicas em operação, este parque quase duplica a sua capacidade de produção renovável– energia que seria o suficiente para abastecer diretamente 23 mil famílias da região por ano.
Da Redação Na Rua News