No primeiro ano do seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou de visitar sete Estados brasileiros, sendo que a maioria deles está associado a governadores que são apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Além de Minas Gerais, o petista não marcou presença no Acre, Alagoas, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Santa Catarina e Tocantins. É essa ausência que ele quer mudar neste ano ao prometer que visitará todos os Estados ainda no primeiro semestre.
No entanto, em alguns Estados do país, não será tão simples encontrar motivos para fazer palanque de aliados para o pleito eleitoral deste ano, quando brasileiros vão eleger vereadores e prefeitos.
Com exceção de Alagoas, os demais Estados são controlados por governadores mais alinhados a Bolsonaro. É o caso de Minas, por exemplo, que é comandado por Romeu Zema (Novo), que adota uma postura mais hostil em relação ao presidente, sendo reciprocamente observado também.
Na avaliação de alguns interlocutores do governo, as desavenças de Zema com o petista pesam na decisão de integrantes do Palácio do Planalto de fecharem uma agenda de Lula no Estado.
Relatos dão conta que o fato do governador ser de uma legenda adversária não é o que pesa negativamente na balança, mas sim a postura do governo. Como exemplo, auxiliares de Lula relatam que o mesmo não acontece com os governadores do Rio de Janeiro e São Paulo.
Cláudio Castro (PL-RJ) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) não são aliados do petista, mas mantêm boa relação. Eles já se reuniram com Lula em seus respectivos Estados, seja para anúncio de programas ou lidar com crises, como as fortes chuvas.
Maior colégio eleitoral do país, o presidente visitou São Paulo por seis vezes em 2023. Os compromissos firmados não têm relação direta com Tarcísio, uma vez que Lula contemplou agendas com sindicalistas – seu principal reduto – além de eventos empresariais.
Já em relação ao Rio de Janeiro, o petista ora foi convocado pelo prefeito Eduardo Paes (PSD), ora por Castro para agendas positivas: anúncios e lançamento de programas. Interlocutores citam que Zema não está sozinho nesse posicionamento. Junta-se a ele o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), que é voz ativa do reduto do bolsonarismo no Sul do Brasil.
Caciques de Alagoas
Alagoas, no Nordeste do país, é berço político do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e do aliado do petista, o senador Renan Calheiro (MDB). O Estado, com pouco mais de 2,35 milhões de eleitores, deixa Lula emparedado por causa da rivalidade entre os dois políticos.
Na avaliação de interlocutores do governo, a ausência de Lula no Estado em 2023 foi a melhor saída para não desagradar os dois caciques alagoanos. Lira, como principal expoente do Centrão, é uma figura que tem o poder de barrar várias medidas do Palácio do Planalto, e, por isso, a avaliação é que ele não deve ser contrariado.
Já Renan Calheiros emplacou seu filho para o Ministério dos Transportes e é uma liderança importante dentro do MDB, que destoa de outros quadros da legenda, como o presidente nacional do partido, o deputado federal Baleia Rossi, de São Paulo.
Promessas
Desde que assumiu o seu terceiro mandato, após uma eleição presidencial polarizada, Lula pregou a pacificação entre a União e os Estados da federação. Ele disse que dialoga com governadores independentemente do partido. Diante disso, o petista se convidou para agendas.
Em Minas Gerais, aliados cobram o quanto antes do Palácio do Planalto uma agenda de Lula no Estado. A falta de previsão tem gerado tensão interna entre petistas. O PT mineiro tem pressa de engatilhar a pré-candidatura do deputado federal Rogério Correia (PT) para a prefeitura de Belo Horizonte.
Na agremiação, o entendimento é de que o atual prefeito, Fuad Noman (PSD), não tem apoio da própria legenda. Segundo interlocutores, a capital mineira, assim como São Paulo, tende a repetir a polarização de 2022 nas urnas. Apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado estadual Bruno Engler (PL) é pré-candidato à PBH.
Recado de Lula ao ministros
Durante reunião ministerial no Palácio do Planalto, em dezembro passado, o presidente pediu ao primeiro escalão do governo federal para ter “prudência” na corrida eleitoral deste ano. Ele disse para os titulares das pastas não se esquecerem que são ministros do governo.
De forma mais direta, Lula não quer que os auxiliares subam em palanques com o ex-presidente Jair Bolsonaro e com integrantes do PL, principal legenda de oposição ao governo federal.
Além disso, a ordem é evitar dividir palanque com quem pode gerar atritos diretos com o Planalto. Embora alguns partidos sejam contemplados com ministérios, a exemplo do MDB, PSD, PP, Republicanos e União Brasil, isso não quer dizer que eles formam uma base sólida para o governo no Congresso.
Assim, o PT pode rivalizar com essas legendas a disputa para prefeituras pelo país. Ou seja, a coalizão para formação de base do governo no Parlamento não é a cartilha que vai nortear as alianças regionais.
No Planalto, por exemplo, este movimento já acontece em relação à disputa pela Prefeitura de São Paulo. Lula apoia o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, é cabo eleitoral da correligionária, a deputada federal Tabata Amaral (PSB).
Da Redação Na Rua News