O custo de vida nos Estados Unidos é, em média, 56,8% mais alto do que no Brasil, de acordo com um estudo realizado pela plataforma Numbeo. Quando se observa apenas os gastos com aluguel, essa diferença aumenta para 80,6%. Analisando as capitais dos dois países, Brasília e Washington DC, a diferença se torna ainda mais evidente. Em Washington, os custos de vida são quase 256% mais altos do que em Brasília, com preços de alimentos 199,8% mais caros e refeições em restaurantes sendo 185,6% mais caras do que na capital brasileira.
O estudo ainda aponta que o poder de compra nos Estados Unidos é significativamente superior, sendo 229,3% maior do que em Brasília. Para manter o mesmo padrão de vida que se tem com R$ 14.000,00 em Brasília, seria necessário cerca de R$ 49.744,60 em Washington DC. Isso mostra como a disparidade entre os dois países afeta diretamente a vida dos imigrantes brasileiros nos Estados Unidos.
A professora Sueli Siqueira, especialista em assuntos migratórios e professora da Universidade Vale do Rio Doce, aponta que o alto custo de vida nos Estados Unidos coloca os imigrantes em uma situação difícil, principalmente para os brasileiros que enfrentam jornadas de trabalho exaustivas e condições de vida precárias. Sueli relatou que muitos imigrantes, especialmente os deportados, trabalham até 16 horas por dia, muitas vezes em condições insalubres e com alimentação inadequada. Ela destacou que, em termos de moradia, muitos imigrantes brasileiros acabam dividindo apartamentos com várias famílias ou alugando quartos em casas, um cenário completamente diferente de suas vivências no Brasil, onde muitos viviam em casas apenas com a própria família.
A pesquisadora também explicou que, embora alguns imigrantes acreditem que podem acessar produtos mais baratos nos Estados Unidos, como celulares, carros seminovos e roupas, a realidade é mais difícil. Mesmo com a sensação de ter acesso a itens que não conseguiriam no Brasil, eles enfrentam condições de trabalho extremamente duras, sem segurança ou garantias de previdência, o que torna o custo de vida ainda mais pesado para quem vive nesses países.
A economista Carla Beni, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembrou que a ideia do “sonho americano” surgiu após a Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos emergiram como uma superpotência global. Entretanto, ela observou que, nos últimos anos, o poder de compra nos Estados Unidos tem diminuído, e o custo de vida tem aumentado, o que afeta diretamente a qualidade de vida da população. Ela explicou que, para uma família americana de quatro pessoas, a renda considerada baixa gira em torno de US$ 34,5 mil anuais, o que corresponde a cerca de R$ 195 mil, uma quantia insuficiente para evitar a pobreza, dada a alta dos custos no país.
A economista também explicou que as diferenças no custo de vida entre os dois países têm a ver com a depreciação do real em relação ao dólar. Nos Estados Unidos, os gastos com alimentação, aluguel e outros custos essenciais são muito mais altos, o que exige uma renda significativamente maior. Além disso, o fato de não haver um sistema público de saúde gratuito, como no Brasil, aumenta ainda mais os custos para quem vive nos Estados Unidos.
Carla Beni acredita que, após as deportações intensificadas no governo de Donald Trump, a falta de imigrantes em setores como a construção civil e a agricultura pode gerar problemas significativos para a economia americana. Isso ocorre porque muitos desses imigrantes formam a base da mão de obra nesses setores, com salários mais baixos, os quais os americanos, em geral, não aceitam. A economista ressalta que, ao retirar essa mão de obra, as empresas terão que reajustar os salários, o que pode afetar a lucratividade e aumentar os custos desses setores.
Portanto, a diferença de custo de vida entre Brasil e Estados Unidos continua a ser um desafio para os imigrantes brasileiros, especialmente em um cenário de políticas mais rígidas de deportação e dificuldade em acessar condições básicas de trabalho e moradia. O estudo reforça a ideia de que, embora alguns imigrantes vejam o país como uma terra de oportunidades, a realidade muitas vezes é mais difícil do que parece, com altos custos e condições de vida precarizadas.
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