Belo Horizonte já tinha fama de ser a capital dos bares. Agora, um levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), com base no Censo 2022 do IBGE, torna o título oficial. A cidade mineira tem a maior concentração de botecos por pessoa e por km² entre todas as capitais do Brasil. São 178,6 bares por 100 mil habitantes, bem à frente da segunda colocada, Florianópolis, com 150,4/100 mil, e Vitória, com 149,9/100 mil. Considerando-se a área do município, BH também está no topo, com uma média de 12,5 bares por km², número muito superior aos de todas as outras capitais, como São Paulo, em segundo, com 5,9 estabelecimentos por km², e Rio de Janeiro, em terceiro, com 5,1.
De acordo com a pesquisa, eram 4.136 botecos em Belo Horizonte, em 2022, para uma população de 2,3 milhões de habitantes. “As pessoas já tinham essa noção há muito tempo, basta visitar a cidade, é uma coisa que salta aos olhos. O que a gente fez foi usar os dados do Censo 2022 e da Receita Federal para comprovar de forma oficial o que as pessoas já tinham de maneira informal”, explica José Eduardo Camargo, líder de conteúdo da Abrasel.
Apesar da clássica expressão “se BH não tem mar, eu vou para o bar”, José Eduardo acredita que esse não é o motivo para a cidade ser a capital da boemia. “Se fosse assim, as cidades de praia não teriam bares. Além disso, o que não falta no entorno de BH são atrações históricas e naturais, como cachoeiras”, aponta.
O especialista dá outra explicação para a conquista desse título pela capital. Segundo ele, a grande quantidade de bares está mais ligada à função social dos botecos e à história da cidade, que tem 125 anos. “BH é uma cidade muito nova, que foi construída para ser a capital do Estado. E ela teve um crescimento muito forte, na década de 1940. Como era uma cidade nova, com muita gente nova, qual é o espaço para as pessoas se relacionarem, se conhecerem? Era o bar”, explica.
Hospitaleiros e com energia de arquibancada
A hospitalidade do mineiro também se reflete na boemia, segundo especialistas. “É uma característica forte daqui e que perpetua a cultura do boteco”, esclarece a pesquisadora Geórgia Caetano dos Santos, doutora em administração pela UFMG. Outro fator é a diversidade da população. “Onde você vai, tem bar para todos os gostos e tribos: bar para terceira idade, bar LGBTQIAPN+… tem bar até para flamenguista”, exemplifica.
A paixão pelo futebol, aliás, é outro ponto que atrai o público. “O belo-horizontino gosta de ver jogo em boteco. Tem botecos que se tornaram clássicos e de forma muito espontânea. Não foram bares criados para serem temáticos”, comenta Daniel Neto, conhecido como Nenel, criador do guia de botecos Baixa Gastronomia. Um exemplo, segundo ele, que é atleticano, é o Bar do Salomão (rua do Ouro, 895, Serra). “Lá tem energia de arquibancada”, completa.
Menos estresse
O título de capital dos bares traz diversos impactos além do crescimento econômico e turístico. “É uma cidade naturalmente propensa à inovação. As ideias circulam com mais facilidade, o contato humano é mais intenso, as pessoas são menos estressadas. Não é à toa que a cidade é conhecida pela música, artes plásticas, dança”, detalha José Eduardo, da Abrasel.