O caso envolvendo a mulher, que também dizia ser “coach de vida”, ganhou repercussão em outubro de 2022, após famílias de jovens brasileiras, uma delas do Sul de Minas Gerais, denunciarem que elas eram forçadas a se prostituir nos Estados Unidos.
Cerca de seis meses após a condenação, no último dia 24 de janeiro a nova ação criminal passou a tramitar no Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região, tendo como base inquérito da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (PRF).
Procurada pela reportagem do Na Rua News , a Justiça Federal informou, por nota, que a ação envolve inquérito policial em que Kat Torres é acusada de “injúria racial contra o povo paraibano, por conta de uma postagem feita em rede social em outubro de 2022”.
“A postagem foi feita no perfil do Instagram de uma outra pessoa que, supostamente, era usado por Katiuscia. O inquérito foi recebido na 2ª Vara Federal de Niterói como juízo das garantias, no dia 24 deste mês de janeiro. Hoje (dia 28 de janeiro) o titular da vara abriu vista para manifestação do Ministério Público Federal”, conclui a nota da Justiça.
Após as diversas contas usadas na época serem apagadas, ainda é possível encontrar algumas páginas nas redes sociais que trazem vídeos de Kat Torres na época. Em um deles, é possível ouvir a influencer proferindo ofensas contra nordestinos e cearenses. “Nordestina do #$%*. Eu não sei nem de onde que ela é, mas tem uma cara de nordestina, de cabeça chata”, fala a “guru” enquanto usa um filtro que simula maquiagem e uma “tiara” de flores.
A reportagem tentou contato com a PF e o MPF, mas, até a publicação desta reportagem, as instituições ainda não tinham se manifestado sobre o caso.
Relembre o caso
Kat Torres começou a ser investigada após, em meados de outubro de 2022, as famílias de duas brasileiras passarem a acusá-la de organizar um esquema de tráfico humano para prostituição nos Estados Unidos. A história das duas vítimas — a mineira Letícia Maia e a paulista Desirrê Freitas — era bastante parecida: após se mudarem para o outro país, as jovens excluíram suas redes sociais e aplicativos de mensagens, cortando completamente o contato com amigos e família.
O caso resultou em um boletim de ocorrência por suspeita de tráfico humano e gerou uma campanha nas redes sociais, que chegou a envolver celebridades, como a modelo Yasmin Brunet (acusada por Kat de tráfico humano) e o apresentador de TV Luiz Bacci, também alvo de acusações feitas pela influencer.
Após um mês de muito mistério, as brasileiras protagonizaram uma fuga digna de um roteiro de Hollywood, que era transmitida quase ao vivo em publicações enigmáticas que eram feitas em diversas contas nas redes sociais, algumas delas de suas vítimas. Kat acabou presa ao lado das outras brasileiras no dia 2 de novembro de 2022, no estado do Maine, por viver ilegalmente no país.
No mesmo mês, a influencer foi extraditada e presa em Belo Horizonte, ficando detida no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto. Meses depois, ela acabou transferida para o Rio de Janeiro, onde continua detida até hoje.
As vítimas
A mineira Letícia Maia Alvarenga, hoje com 23 anos, é filha de um casal formado por um bancário, de 53 anos, e uma professora e confeiteira, de 50. O casal, que tem ainda outros dois filhos, vivia em Perdões, no Sul de Minas Gerais. Criada em uma família unida, trabalhadora, com princípios religiosos na Igreja Católica, de acordo com os pais, a jovem sempre frequentou as aulas, sendo querida por professores e colegas, e concluiu o ensino médio em dezembro de 2018.
“Desde criança ela sempre gostou de trabalhar, fazia doces para vender, e nós sempre apoiávamos a ganhar a vida de forma digna. Ela sempre sonhou em ir para os Estados Unidos”, contou a mãe de Letícia.
Além de Letícia, outra mulher também era procurada por familiares e amigos. Desirrê Freitas Silva, de 26 anos, é natural de São Paulo e, segundo uma amiga, que a conheceu no Canadá, teria sido induzida por Kat Torres a se separar do marido, com quem vivia na Alemanha, e se mudado para o Texas, nos EUA, para trabalhar com a “guru”.
Dezenas de vítimas
Após a grande repercussão do caso, diversos relatos de possíveis vítimas de Kat foram divulgados em uma página na internet e reunidos pela advogada Gladys Pacheco. Na época, ela representava cerca de 15 pessoas que diziam ser vítimas de golpes e outros crimes de Kat Torres, que vendia trabalhos espirituais, cursos e outros serviços em um site.
“Entre outras coisas, ela pedia dinheiro para resolver, de forma milagrosa e secreta, os problemas dessas vítimas”, explica Pacheco. A advogada afirma que os atos atribuídos à influenciadora podem configurar crimes como tráfico de pessoas, tortura, redução a condições análogas à escravidão, favorecimento à prostituição ou outras formas de exploração sexual, extorsão religiosa e charlatanismo.