O cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi eleito na quinta-feira (8/05) como o novo papa da Igreja Católica, sucedendo Francisco. Com a escolha do nome Leão 14, ele se torna o 267º pontífice da história e o primeiro nascido nos Estados Unidos a ocupar o cargo mais alto do Vaticano.
A confirmação da eleição veio por volta das 18h (horário local), quando a fumaça branca subiu da chaminé da Capela Sistina, no Vaticano, sinalizando que os cardeais haviam chegado a um consenso. A decisão foi anunciada ao mundo pela tradicional proclamação latina Habemus Papam (“Temos um papa”), feita pelo cardeal francês Dominique Mamberti diante de uma multidão que lotava a Praça São Pedro.
Discurso emocionado e tom missionário
Logo após o anúncio, o papa Leão 14 surgiu na sacada central da Basílica de São Pedro e acenou aos milhares de fiéis presentes. Em um breve e emocionado discurso em italiano, agradeceu a confiança dos cardeais e fez menção direta ao seu antecessor: “Obrigado ao papa Francisco, que nos guiou com humildade e coragem”, afirmou.
O novo pontífice reforçou o desejo de uma Igreja missionária e aberta ao diálogo, com atenção especial aos mais vulneráveis. “Precisamos construir pontes. Essa é a paz de Cristo ressuscitado: uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante, que vem de Deus, que nos ama a todos incondicionalmente”, declarou.
Em seguida, falou em espanhol, relembrando suas duas décadas como missionário no Peru, país pelo qual se naturalizou cidadão e onde atuou fortemente junto a comunidades pobres e imigrantes.
Trajetória marcada pelo serviço e pela formação sólida
Robert Prevost nasceu em Chicago (EUA) e ingressou na Ordem de Santo Agostinho em 1977. A congregação é conhecida por seu trabalho com os pobres e pela vida comunitária baseada nos ensinamentos de Santo Agostinho. Em 1985, foi enviado como missionário ao Peru, onde permaneceu até 1998. Anos depois, voltou ao país sul-americano como bispo da cidade de Chiclayo.
Além da atuação pastoral, Prevost possui formação acadêmica sólida: é bacharel em Matemática, mestre em Teologia e doutor em Direito Canônico pela Universidade Pontifícia São Tomás de Aquino, em Roma.
Em 2015, foi escolhido para liderar a Ordem de Santo Agostinho em nível mundial. Em 2023, o papa Francisco o nomeou cardeal e o colocou à frente do Dicastério para os Bispos, órgão estratégico do Vaticano responsável pelas nomeações episcopais em todo o mundo.
Eleição rápida e histórica
A escolha de Leão 14 foi feita em pouco mais de 24 horas após o início do conclave — tempo considerado ágil. Foram necessárias três rodadas de votação até que Prevost alcançasse pelo menos 89 dos 133 votos, superando os dois terços exigidos.
Este foi também o maior e mais diverso conclave da história da Igreja Católica: 133 cardeais eleitores de 71 países, sendo que mais de 80% deles foram nomeados pelo próprio papa Francisco. Essa diversidade aumentou a representação de regiões como América Latina, África e Ásia no processo de escolha do novo papa.
Perfil moderado, mas com posições firmes
Especialistas e veículos internacionais consideram o novo papa um perfil moderado, com habilidade para equilibrar as tensões entre alas progressistas e conservadoras da Igreja. Sua atuação com migrantes e comunidades vulneráveis no Peru é vista como alinhada à agenda social do papa Francisco.
No entanto, Leão 14 adota posturas mais tradicionais em temas como gênero e sexualidade. Em declarações anteriores, criticou o que chamou de “promoção da ideologia de gênero” e demonstrou preocupação com mudanças curriculares que abordavam identidade de gênero nas escolas peruanas.
Durante seu período como bispo em Chiclayo, Prevost também foi citado em um caso de suposta má condução de investigação sobre abusos sexuais. Seus defensores afirmam que ele foi alvo de ataques orquestrados por membros de movimentos católicos dissidentes no Peru, já dissolvidos pelo Vaticano.
Desafios à frente do papado
Leão 14 assume a liderança da Igreja Católica em um momento de transição e continuidade. O papa Francisco deixa um legado de abertura, diálogo com o mundo contemporâneo e incentivo à sinodalidade — conceito que valoriza a escuta mútua entre clérigos e leigos.
Em sua fala inaugural, o novo pontífice reforçou esse espírito ao afirmar que deseja uma Igreja “que caminha junto, escuta, acolhe e serve”.
Agora, sob os olhos atentos de 1,3 bilhão de católicos ao redor do mundo, o papa Leão 14 inicia uma nova fase no Vaticano, com a missão de unir, renovar e conduzir a Igreja diante dos desafios do século 21.