Desnecessário dizer que estávamos todos ansiosos pela chegada de Marina Abramović à Usina de Arte, na Zona da Mata Sul de Pernambuco. Apesar do farto acervo de obras de larga escala que os fundadores, Ricardo e Bruna Pessoa de Queiroz, exibem em seu parque artístico, não tinham até então um nome tão estelar como o de Marina entre suas atrações.
Nós, do time Vogue ali presentes, a aguardávamos, num misto de curiosidade e apreensão, para realizar este ensaio e conhecer, em primeira mão, o site specific Generator – primeira obra pública dela no Brasil e em toda a América do Sul. Marc Pottier, curador da Usina, nos acalmava: “Ela é sensacional. Além do fato que é uma superstar, é uma pessoa supernormal”. Dito e feito. Marina já chega dispensando qualquer cerimônia ou apresentação intermediada.
Caminha até mim, estende a mão, me olha nos olhos e diz: “Hi, I’m Marina”. Vasculha pela casa um lugar, escolhe uma das poltronas à sombra, na generosa varanda da casa-sede da Usina e assim damos início à nossa conversa.
Tento começar a falar da obra e de seu processo de realização, que levou cerca de dois anos, mas Marina não me deixa seguir. “Antes de tudo, quero falar da minha relação com o Brasil.” Também já havia sido alertado por Bruna: “Com Marina é assim: ela chega e define. Não tangencia assuntos, é direta e objetiva”. Dito e feito novamente.
A primeira vez de Marina no país, ela vai me contando com sua voz firme e aveludada, não foi meramente turística. Tinha acabado de realizar em 1988, ano anterior à sua primeira vinda, a performance The Great Wall: Lovers at the Brink, com seu então marido, o artista alemão Ulay, na Muralha da China, em que o casal percorreu 2,5 km da estrutura.
“Nessa longa caminhada, andei sobre diferentes minerais e percebi que a relação do chão e dos minerais que o formam está diretamente conectada com a nossa mente. Quando terminei, fui procurar o país que tem mais minerais no mundo, o Brasil”, explica.